sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Páginas de violência na história de Carira

Durante o século XX, muita gente acreditava que o mundo não chegaria ao ano 2000. Estava selado o destino da humanidade. O dia primeiro de janeiro de 2000 serviu de desmentido.
Não foi diferente no fim do século XIX: qualquer trovão mais ruidoso que de costume prognosticava o fim dos tempos, que não chegariam a 1900.
Por essa época não eram boas as referências do Carira, devido às atrocidades cometidas por Chico Vicente. Foi incumbido o alferes Bananeira de reprimir os atos daquele criminoso.
Por fim, Chico Vicente matou Zé Tabua e raptou-lhe a mulher. Tempos depois foram mortos em Alagoas.
Eram tempos obscuros aqueles! Não havia muita diferença entre polícia e bandidos, dada a violência praticada por gente de ambos os lados.
As diligências policiais, que em tese trariam segurança, acabavam tirando o sossego dos moradores do longínquo povoado. O intendente da Vila de São Paulo, atual Frei Paulo, era o alferes Manuel Hipólito Rabelo de Morais, morador do Gameleiro, a quem se atribuía extrema severidade no tratamento dado aos habitantes do Carira. Nem sempre esse abuso de autoridade foi aceito passivamente. Exemplo disso foram os atritos com a família de Martinho de Souza, que resultaram em baixas para os subordinados do alferes.
Vira-se essa página de violência. Mas ainda antes de Manuel Hipólito deixar a intendência começa Monte a se celebrizar no crime. Nada o intimidava; nem a dureza dos castigos que o alferes reservava para quem ousasse desafiá-lo.
Em 1912, ano da morte de Manuel Hipólito, nomeia-se Francisco Simões de Almeida (Chiquinho Simões) para subdelegado de polícia. A partir dessa nomeação a autoridade policial passa a ser um morador do Carira. Atende-se nesse caso ao interesse do intendente José de Padre.
Em 1915, numa tentativa de dar cabo de Monte, parentes dele acabam matando sua amásia, Flor, e ferindo Beijo, filho do casal. Não tardou o revide: com um tiro de bacamarte Monte põe fim à vida de seu tio Sabino. A extensa carreira criminosa de Monte não se encerra aqui, mas nos limitamos a tratar dos crimes que tiveram o Carira como palco. Em meio à tensão provocada por tanta criminalidade, exercia Manuel Rabelo de Morais a dura e arriscada tarefa de ser subdelegado de polícia nestes confins de sertão.
Chegamos a 1918. Avança o século XX, e com ele as mesmas barbaridades. O soldado Morais tenta, sem sucesso, matar o subdelegado Florentino Rabelo de Morais (Floro Rabelo). Em seguida deserta para Bebedouro, atual Coronel João Sá. Esse crime teve a agravante de ser cometido contra uma autoridade. A subdelegacia passa às mãos de Martinho de Souza.
Entramos na década de 1920. A teia de intrigas e mortes na região segue desenfreada, e nela também está o subdelegado Brasilino Meneses. Pela indisposição com os Isídios, família destas imediações, Brasilino perdeu um de seus homens, nos atuais limites entre Carira e Frei Paulo . Em 1922, após insultos à família do ex-subdelegado Martinho de Souza, torna-se inevitável o confronto, que culmina com a morte de Brasilino.
Em junho de 1923, o comerciante Zé Boteco atira em Jason Tavares, de influente família frei-paulistana. Dessa vez a razão foram ciúmes: Zé Boteco desconfiava que sua mulher era seduzida por Jason.
Em dezembro de 1925, Andrelino, irmão de Monte, assassina o subdelegado José Conrado de Souza. Revoltado com tamanha audácia e covardia, Antônio Conrado de Souza (Totonho Conrado), irmão de Zé Conrado, recorreu às autoridades em Aracaju e obteve apoio para a desforra. O fato de ser irmão de Monte não livrou Andrelino de ser morto, no Cipó de Leite, onde se escondia, em janeiro de 1926.
Em 1934, nas adjacências do mesmo Cipó de Leite, o sanguinário cangaceiro Zé Baiano e comparsas de seu subgrupo, assassinam, com requinte de crueldade, o fazendeiro Martinho de Souza e seu vaqueiro, Joãozinho de Vítor. Por esta razão, cinco filhos de Martinho e alguns parentes formaram uma volante, para perseguição aos cangaceiros (foto).
Repetimos: eram tempos obscuros aqueles! Maldade e defesa da honra confundiam-se, como se uma justificasse a outra.

Para composição deste texto, servimo-nos da leitura das seguintes obras: CARIRA, de João Hélio de Almeida; RETALHOS DE HISTÓRIA, de Olímpio Rabelo; MEMÓRIAS, de Olímpio Rabelo.
Volante composta por filhos de Martinho de Souza e alguns primos, década de 1930. Foto extraída da obra MOMENTOS DA MINHA VIDA, de Antônio Conrado de Souza

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