terça-feira, 21 de outubro de 2014

Gonçalos, uma tradição da política de Carira


Em 1948, nas proximidades do então distrito de Carira, morria o fazendeiro José Pedro Martins (Zé Gonçalo). Filho de Pedro Martins de Souza e Isabel Coleta de Jesus, era Zé Gonçalo o patriarca dos Gonçalos, tradicional família de Carira. Ainda hoje existe a casa onde ele morava, situada na atual Vila Nova, em frente à capela de Santa Rita de Cássia. À época, parte do terreno que compreende esse bairro pertencia a ele. A esposa, Joana Maria de Jesus (Joaninha Gonçalo), veio a falecer em Carira, quase trinta anos depois, em 1977, com mais de 90 anos de idade, longevidade herdada pela maioria dos filhos, alguns dos quais ainda vivos e com essa mesma faixa de idade.

Zé Gonçalo e dona Joaninha eram proprietários de terras na Pedra Grande, em Nossa Senhora da Glória, onde constituiram e criaram a maior parte da família. De lá se mudaram para o Carira, por causa do banditismo: eram tempos de cangaceiros e volantes. Tinham também propriedade no Jenipapo, município de Lagarto.

Eram pais de João Pedro Alves (João Gonçalo), Manuel Pedro Alves (Manezinho Gonçalo), João Alves Evangelista (Valista), Sinésio Alves (Sinésio Gonçalo), Francisco Pedro Alves (Chico Gonçalo), Maria Alves dos Reis (Caçula), Carmelita Maria de Souza e outros.

Assim como outras famílias de Carira, os Gonçalos tinham parentes no atual município de Pedro Alexandre. Em localidade chamada Tontinha, bem próximo ao rio do Peixe, morava Inácio Martins de Souza (Inacinho), irmão de Zé Gonçalo. O fazendeiro João Paulino de Souza (João de Inacinho), filho de Inacinho, era proprietário de terras muito conhecido naquela localidade e em toda a região. A maior parte dos filhos de João Paulino mudou-se para outras terras, três dos quais para o município de Carira: João Batista de Souza (Joãozinho de Nativa) e sua irmã dona Eugênia Souza dos Reis (Genita) moram no Descoberto; e na sede do município mora dona Maria de Souza Teles (Maria de Dionísio), mãe do comerciante José Raimundo Souza Teles (Nininho da Mercearia).

Zé Gonçalo morreu sem ver quanto sua família se tornou politicamente influente em Carira, desde a consolidação de nossa emancipação política até a atualidade.

No início de 1955, toma posse Olímpio Rabelo de Morais, primeiro prefeito de Carira, e entre os pioneiros da nossa câmara municipal já vemos o vereador João Pedro Alves (João Gonçalo). Em fins dessa gestão, quando nosso município se preparava para nova eleição, João Gonçalo, juntamente com alguns amigos, aconselhava Antônio Conrado de Souza (Totonho Conrado) a candidatar-se a prefeito. Aceito o conselho, Totonho Conrado tornou-se o segundo prefeito de Carira, com posse em 31 de janeiro de 1959.

Entre os vereadores eleitos para esse segundo período administrativo, contamos João Alves Evangelista (Valista). Mais uma vez temos um gonçalo na câmara de vereadores.

Passada a administração de Antônio Conrado de Souza, chega ao poder Antônio Dutra Sobrinho, em 31 de janeiro de 1963.  Isso se deu num momento muito turbulento da história do Brasil. No ano seguinte inicia-se um longo período de ditadura militar.

Em meio a toda a agitação provocada pela ditadura, os ventos da arbitrariedade sopram Carira: em 12 de junho de 1964 Antônio Dutra Sobrinho é destituído do poder. Em seu lugar assume Valista.
Pela primeira vez o poder executivo municipal chega às mãos de um membro dos Gonçalos, e assim foi-se mantendo sempre algum indivíduo dessa família entre os protagonistas da política carirense. Não foi porém uma conquista triunfal, pois em 21 de fevereiro de 1965 teve Valista a mesma sorte de Dutra. O governo municipal sofre intervenção militar.

Passada a tempestade, veio a calmaria, e com ela o triunfo de um genro de João Gonçalo - Aroaldo Chagas, eleito prefeito no pleito seguinte e empossado em 30 de março de 1967. Foi sucedido por Jercílio Soares de Lima, em 31 de janeiro de 1971.

Em 31 de janeiro de 1973, Aroaldo chegou novamente ao comando de nosso município. Dessa vez, com pouco mais de um ano, seu trabalho foi interrompido por um trágico acidente automobilístico que lhe tirou a vida, em 14 de fevereiro de 1974, nas adjacências de Terra Dura, município de Itabaiana. No entanto essa tragédia não apagou de nossa memória a imagem de um dos mais bem-conceituados administradores que já tivemos. Seu substituto foi o então vice-prefeito João Antônio da Paixão (João Carira).

Em fevereiro de 1977 inicia-se o mandato da prefeita Maria Neuza Alves Chagas, viúva de Aroaldo Chagas e filha de João Gonçalo. Pela primeira vez uma mulher alcança esse posto em Carira, fato que só se repetiria 32 anos depois, com a posse de Gilma Chagas. Para vice-prefeito foi eleito Juarez de Lima Oliveira, morto em 12 de janeiro de 1980. Em 1982, pouco antes do término dessa gestão, Carira chora a morte de João Gonçalo.

Em 1° de fevereiro de 1983, chega ao poder João Bosco Machado, após vencer Mauro Rodrigues dos Santos, candidato apoiado por dona Neuza. Na eleição seguinte, Bosco elege seu sucessor, José Augusto Dutra, que toma posse em 1° de janeiro de 1989. Em 1° de janeiro de 1993, volta ao poder João Bosco Machado, após sair vencedor num novo pleito eleitoral. Permaneceu no cargo até 31 de dezembro de 1996.

Como se pode ver, foi um longo período de insucessos do grupo político apoiado por dona Neuza, mas não estava encerrada ali a trajetória política da família: quando não estavam no poder, encabeçavam a oposição. Foi nesse período que surgiu Aroldoaldo Chagas (Negão), que, antes de tentar eleger-se prefeito, foi vereador, com expressiva votação, na gestão de José Augusto Dutra. Mais adiante, o jovem Geofrancio de Jesus Reis dava os primeiros passos de uma carreira política em que se elegeria por algumas vezes vereador, chegando a alcançar a presidência da Câmara Municipal. Ele é neto de dona Caçula, filha de Zé Gonçalo.

Em 1° de janeiro de 1997, após vitória contra José Augusto Dutra, toma posse Aroldoaldo Chagas (Negão). Pela vitória de seu filho, dona Neuza vê seu grupo político de volta ao poder. Terminada essa gestão, o povo de Carira reconduziu João Bosco Machado ao poder, fato que se repetiu na eleição seguinte.

No dia 7 de junho de 2009, faleceu dona Maria Neuza Alves Chagas, que tanto quanto seu marido, Aroaldo Chagas, seu pai, João Pedro Alves (João Gonçalo), e seu tio João Alves Evangelista (Valista), deixou muita saudade ao povo de Carira. Passaram os três para a vitrine de nossa história.

De 1° de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2012, o município de Carira foi administrado pela prefeita Gilma Araújo Santos Chagas, mulher do ex-prefeito Aroldoaldo Chagas (Negão). O vice-prefeito foi Geofrancio de Jesus Reis. Vemos então a terceira geração dos Gonçalos mantendo uma trajetória política iniciada por João Gonçalo.

Para a composição deste texto contamos com a generosa colaboração de Eugênia Souza dos Reis (Genita), Maria Souza Teles (Maria de Dionísio), Maria Alves dos Reis (Caçula), Carmelita Maria de Souza (Carmelita da Pedra Grande), João Batista de Souza (Joãozinho de Nativa), Vicencia Maria de Souza, Cesária Maria dos Santos e Gregório Martins Nunes, e pesquisamos a obra Carira, de João Hélio de Almeida.

Posse de Aroaldo Chagas, em seu segundo mandato. Ao seu lado, a primeira-dama Maria Neuza Alves Chagas, filha de João Pedro Alves (João Gonçalo).

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