sexta-feira, 25 de novembro de 2022

GUILHERME MARTINS DE SOUZA (Guilherme Inácio).


 Filho de João Inácio de Souza e Inês Maria de Jesus, Guilherme Inácio era tio de minha mãe, por ser irmão de minha avó materna, e padrinho de meu pai.

Ele era natural do interior de Pedro Alexandre, território pertencente a Jeremoabo à época de seu nascimento. Foi morador do interior de Frei Paulo, onde se casou duas vezes: a primeira, com Maria Soledade da Maternidade (1913), de quem enviuvou; a segunda, com Edmeia Guedes da Costa (1934). Em ambos os casamentos, constituiu família. Também residiu no povoado Posto de Adonias e em outras localidades do interior de Pedro Alexandre.

Tem descendentes principalmente em Sergipe. Em Frei Paulo, moram alguns de seus filhos, entre os quais, o comerciante Zacarias Guedes de Souza, famoso pelo bom humor. No povoado Alagadiço, desse mesmo município, morava seu genro Pedro de Nica, um dos homens que, chefiados por Antônio de Chiquinho, deram cabo do cangaceiro Zé Baiano, em 1936.

Em Carira, há membros da família de sua neta Eunice, esposa de Valfran Dantas Barreto, que manteve por muito tempo nessa cidade uma loja de móveis. Os pais de Eunice, conhecidos como Zé de Felismino e Santana acabaram se mudando de Carira para outra região do Brasil. Há relatos de que era abastado esse genro de Guilherme Inácio: teve caminhão, bomba de gasolina e padaria, num tempo em que Carira era ainda muito menor.

Em Itabaiana mora também uma filha de Guilherme: Maria Souza de Freitas, viúva de José Joaquim de Freitas, conhecido como Lábios de Rosa. Seus filhos, em boa parte, também estão estabelecidos naquela cidade.

Ele teve outros filhos além dos mencionados neste texto.

Com a idade avançada, Guilherme Inácio mudou-se do povoado Posto de Adonias para a cidade de Frei Paulo, a fim de ficar mais próximo dos filhos. Ali permaneceu até o fim da vida.

Foto: acervo de Maria Souza de Freitas.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Genário Dória (Niquinho)


Natural de Frei Paulo, o senhor Genário Dória era filho de Manuel Pereira Dória e Maria do Céu Dória. Nasceu em 18 de junho de 1919 e era membro de uma família que tinha ramificações nas Purgas, Bandeira, Gameleiro e outras regiões de Carira. Entre seus parentes, contamos Beta de Chico Caixeiro e Liquinha Dutra. 

O fato de ter o menor porte físico entre os homens da família rendeu a ele o apelido Niquinha, ou seja, uma pequena moeda de níquel. Mas com o tempo, já fora do meio familiar, passaram a chamá-lo Niquinho.

Foi pedreiro, agricultor e comerciante. Na juventude, fez parte da filarmônica Lira Paulistana. Trabalhou na obra de abertura da rodovia BR-235. Por esse tempo, foi colega de Josué Mauro de Menezes, filho de Graciliano José de Menezes e irmão da jovem Anália, com quem Niquinho se casou e constituiu família. Com o casamento, ele acabou se mudando para o Carira. Teve um bar na praça Cândido Moreira e lá vendia vinagre e bebidas artesanais, como vinho de jurubeba, vinho de jenipapo e outras - tudo produzido por ele mesmo. A esposa, por sua vez, fazia bolos e outras comidas típicas.

A luta pela vida o fez viajar algumas vezes ao estado de São Paulo, chegando a permanecer um razoável tempo por lá, sem jamais se desfazer porém do que já havia conquistado em solo carirense.

Por fim se estabeleceu em uma propriedade rural no Alto da Boa Vista, no perímetro urbano de Carira, ali permanecendo até o fim da vida. 

São os seguintes os seus filhos: Genaide Dória, Manoel Messias Dória, Josefa Fernandina Dória Alves (Juju), José Dória (Valcides), Gedalva Dória, José Antônio Dória (Zezinho Careca), Maria do Carmo Dória d'Anunciação (Maria Dória), Maria Nazaré Dória, Maria Aparecida Dória (Cidinha), Maria Noélia Dória Santos (Neném de Zé Popô), Antônio Fernandes Dória (Toninho Carteiro), Terezinha Menezes Chagas (Tereza de Zé de Zeca) e Genário Dória Filho (Gegê).

De índole pacífica, Genário Dória e Anália Maria de Menezes Dória eram bem relacionados com a comunidade e souberam honrar seu próprio nome e servir de espelho para a família e descendentes, além de conquistarem o respeito e a admiração de muitos de seu tempo.

Ela morreu em 14 de dezembro 1998, com 77 anos de idade; e ele, nonagenário, em 14 de novembro de 2015.

No ano de 2021, em justa homenagem, foram aprovados projetos de lei que dão a duas ruas do Alto da Boa Vista os nomes Genário Dória e Anália Menezes.

A foto e a maior parte das informações que constam neste texto foram gentilmente transmitidas por Antônio Fernandes Dória (Toninho Carteiro).

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Comunicam-nos de Itabaiana

Artigo publicado no jornal A Reforma (Aracaju), em 27 de maio de 1888, edição n° 72. Atualizamos a ortografia.
Trabalho resultante de pesquisa empreendida por Ana Paula Oliveira Ferreira, cuja colaboração agradecemos.


O celebérrimo delegado de polícia desta vila, Manuel da Cunha, no dia 1° deste mês, dirigiu-se ao Carira, à casa do pacífico cidadão Antônio Martins, em procura de Francisco Vicente, que não são criminosos. Antes que o pobre homem abrisse a porta de sua casa, a soldadesca desenfreada, por ordem do mesmo delegado, arrombou a casa, derribando a porta e invadindo-a carregaram, ou melhor, furtaram 2 facões e 1 faca de raspar mandioca. Sempre acompanhado do delegado, a mesma força dirigiu-se à casa de um pobre velho onde carregaram 2 garruchas, 2 facões, 2 facas, um chapéu e umas moedas de cobre.
Continuando em suas correrias a tropa invadiu a casa de um genro de Antônio Martins e furtou uma faca e um quarto de carne de boi salgada. No dia seguinte a tropa repetiu as mesmas cenas, cercando e varejando a casa de Joaquim Martins, e porque o inspetor de quarteirão do mesmo lugar estranhasse tantas arbitrariedades, foi ameaçado de rede e bala, e para amostra do pano um dos soldados disparou a espingarda.
Como tudo isto é simplesmente horroroso, desejávamos saber porque se conserva naquela vila o oficial de polícia capitão Manuel da Costa de Mesquita.
Será debalde relatar estes e outros fatos, porquanto a proteção que se dispensa a essa autoridade energúmena não tem qualificação possível. 
Amanhã será ouvido o mesmo delegado que tudo negará para ser elogiado por essas e outras brilhaturas.
Em todo caso cumprimos com o nosso dever chamando a atenção das ditas autoridades para providenciarem acerca de fatos de tamanha gravidade.  

domingo, 16 de agosto de 2020

Uma imensa família Souza nas Caatingas de Pedro Alexandre

Em meados do século XIX, em local e data que não sabemos precisar, começaram a se constituir as famílias dos irmãos Inácio Martins de Souza e Domingos Martins de Souza. Seus filhos e netos, que não eram poucos, foram proprietários de terras nas caatingas do atual município de Pedro Alexandre, que à época pertencia a Jeremoabo, no estado da Bahia, em localidades como Deserto, Tontinha, Quati, Toca da Onça, Tanque Novo, Lagoa das Pedras, Pindoba e muitas outras.
Dizia-me meu saudoso pai, Teodoro José de Souza, serem eles filhos do vaqueiro João Martins, fundador de Carira, em Sergipe. A propósito, em sua obra Retalhos de História (1965), o primeiro prefeito desse município, Olímpio Rabelo, afirma haver descendentes desse pioneiro no Rio do Peixe, situado na região mencionada. 
Como marca desse tempo, existe uma obra fundada por Inácio Martins de Souza: o rústico cemitério de Nossa Senhora da Guia, no Deserto.
Falaremos um pouco dessas famílias, de modo parcial, como em qualquer trabalho desta natureza. Primeiramente dos descendentes de Inácio e mais adiante dos de Domingos.

Inácio Martins de Souza era pai de numerosa família: João Inácio de Souza, Paulino Inácio de Souza, Tomás Inácio de Souza, Macário Inácio de Souza (Bibio), José Inácio de Souza, Antônio Inácio de Souza e Maria Eusébia do Bonfim (Não se sabe se houve outros). Esses irmãos eram conhecidos como os "Inácios" e são aínda hoje os principais ascendentes dos moradores da região que citamos no início do texto, além de terem muitos descendentes no vizinho município sergipano de Carira.

- João Inácio de Souza era casado com Inês Maria de Jesus, filha de Brás de Souza Freire e Teresa Maria de Jesus. Quando idoso, morava no Tanque Novo, próximo ao Deserto, e tinha propriedade no Quati, vizinho ao Rio do Peixe, em Pedro Alexandre. Morreu em 1° de novembro de 1939. Entre seus muitos filhos, havia Guilherme Martins de Souza, Cassemiro Martins de Souza, Daniel João de Souza, Joaquina Maria de Jesus, Alta Maria das Virgens, Maria José, Teresa, Vicencia Princesa de Souza e Maria Alves de Souza, minha avó materna. Com a exceção desta última, todas as filhas de João Inácio se casaram com primos de primeiro grau.

- Paulino Inácio de Souza era casado com a prima Maria Rosalina dos Santos, apelidada de Santa, filha de Domingos Martins de Souza. Seus filhos eram José Paulino de Souza, Maximiano Paulino de Souza (Maxi), Pedro Paulino de Souza, Juvêncio Paulino de Souza e Marcolina Maria dos Santos.
José Paulino de Souza contraiu núpcias com a prima Isabel Maria de Souza, filha de Manuel Joaquim de Souza. Seus filhos eram Josefa, João José de Souza, Andrelina Maria de Souza, José Paulino Filho (Zezé), Heráclia Maria de Souza, Geraldo José de Souza, Abílio e Teodoro José de Souza, pai do autor deste texto.
Teodoro José de Souza nasceu em 7 de janeiro de 1923, nas caatingas de Pedro Alexandre, Bahia, e morreu em 13 de junho de 1992, em Aracaju, Sergipe. Em fins da década de 1940, casou-se com Vicencia Maria de Souza, filha de Martinho Nunes de Souza e Maria Alves de Souza. Fica declarado neste parágrafo meu orgulho de ser fruto dessa união.

Até agora, limitei-me a tratar dos meus ascendentes diretos por parte de Inácio Martins de Souza. A partir daqui, falarei sobre outros filhos dele e de suas respectivas descendências, expondo a imensidão destas famílias tão ligadas por laços de sangue:

- Não se sabe de descendentes de José Inácio de Souza.

- Maria Eusébia do Bonfim (Eusébia), era a única filha de Inácio de que já tivemos notícia. Nunca soubemos se havia outras. Seu marido chamava-se Bernardino José de Sena, filho de Brás de Souza Freire e Teresa Maria de Jesus. Moravam nas adjacências do Cipó de Leite, em Pedro Alexandre. Tiveram também muitos filhos. Paulina Dionília de Sena, Antônia, Graça, Jardilina, José Bernardino de Souza (Zezé Bernardino), Felismino de Souza Freire (Filó) e Idalina de Souza Sena eram alguns deles. 
Idalina era a mãe do senhor João Caetano de Souza, conhecido marceneiro da cidade de Carira, Sergipe.

- Tomás Inácio de Souza e Maria Rosa de Jesus constituiram numerosa família. Seus filhos eram Antônio Tomás de Souza, João Tomás de Souza, Joaquim Tomás de Souza, Pedro Tomás de Souza (Pedro Guia), José Tomás de Souza, Atanásio Martins de Souza, Josefa Agostinha de Jesus, Maria do Nascimento de Souza (Mariinha), Maria Senhora de Souza e outros. Esses irmãos, em sua maioria, casaram-se com parentes, a exemplo de Maria do Nascimento de Souza (Mariinha), que se uniu em matrimônio com Pedro Paulino de Souza, filho de Paulino Inácio de Souza.

- Macário Inácio de Souza era conhecido pelo apelido Bibio. Na prática, esse apelido acabou servindo de complemento informal para os nomes de seus filhos homens: Felismino Martins de Souza (Felismino Bibio), Felinto Macário de Souza (Felinto Bibio), João Paulo Martins de Souza (João Paulo Bibio), José Macário de Souza (Zé Bibio), João (João Bibio) e outros; das mulheres, citamos Josefa, Júlia e Maria Senhora dos Anjos (Dos Anjos), avó materna de Antônio José de Souza (Tonho de Zezinho), ex-vice-prefeito de Pedro Alexandre. Tal qual outras famílias da região, esses irmãos se casaram com parentes. Felinto Macário de Souza casou-se em primeiras núpcias com sua prima Marcolina Maria dos Santos, filha de Paulino Inácio de Souza. Há entre seus filhos, Doroteo Felinto de Souza, pai de uma família bem conhecida no povoado Descoberto, em Carira.

- Julião Inácio de Souza, pelo que se sabe, teve três filhas: Petronila, Minervina e Maria José. Maria José uniu-se em matrimônio com Juvêncio Paulino de Souza (Tutu), filho de Paulino Inácio de Souza. Petronila, por sua vez, criou a família no Salgadinho, em Pedro Alexandre.

- Antônio Inácio de Souza era casado com Paulina Maria de Jesus. Entre os filhos do casal havia José Antônio dos Santos, Geminiano Antônio de Souza, Rufina Maria de Jesus, João Antônio de Souza e outros.
Geminiano mudou-se para outras paragens, e seus filhos gêmeos Manuel Miguel de Souza e Germínio Antônio de Souza constituiram família no Quati e nas imediações do Cipó de Leite, interior de Pedro Alexandre.
Quanto a José Antônio dos Santos, era apelidado de Santo Inácio e morava no Carira, onde se casou, em 1901, com Maria Romana do Espírito Santo. Teve propriedade rural em lugar denominado Lagoa da Jurema, nos limites entre a Bahia e Sergipe, e no atual povoado Descoberto, em Carira, onde moram muitos de seus descendentes. Em suas terras, José Antônio fundou o cemitério daquela localidade, o qual todos chamamos Cemitério de Santo Inácio. A rua Santo Inácio, na cidade de Carira, tem este nome em homenagem a ele. 
Ananias José dos Santos (Zé de Santo) era filho de Santo Inácio e pai de dona Madalena Maria da Silva, esposa do saudoso vereador José Francisco da Silva (Zé Guarda). José Alberto da Silva (Beto de Zé Guarda) foi vereador e vice-prefeito de Carira. Outro neto ilustre de Zé de Santo é o professor José Ivan dos Santos, secretário de educação do município de Carira na gestão de Gilma Chagas.
Santo Inácio era o pai de duas matriarcas do povoado Perdidos, também em Carira, a saber, dona Madalena e dona Olívia, casadas respectivamente com os irmãos Maximino Alves de Oliveira e Francisco Alves de Oliveira. Dona Madalena era a mãe do senhor Paulo Alves de Oliveira, conhecido como Paulo dos Perdidos, morador daquele povoado.
Também filhos de Santo Inácio eram Josefa Maria de Jesus (Zifinha dos Olhos d'Água), Genário José dos Santos, Margarida Maria de Jesus e outros, todos falecidos.
A razão pela qual nos alongamos em falar dos descendentes de Antônio Inácio de Souza é o fato de haver entre eles pessoas influentes do município de Carira.

Conforme já dissemos, João Inácio de Souza era casado com Inês Maria de Jesus; Tomás Inácio de Souza, com Maria Rosa de Jesus; e Maria Eusébia do Bonfim, com Bernardino José de Sena. Neste particular, houve três casamentos entre duas famílias, já que Inês, Maria Rosa e Bernardino eram irmãos. Os três eram filhos de Brás de Souza Freire e Teresa Maria de Jesus. O fazendeiro Martinho de Souza Freire, famoso morador do povoado Carira no início do século XX, era também filho desse casal.
Encerra-se aqui a exposição da descendência de Inácio Martins de Souza, para em seguida falarmos da de seu irmão Domingos.


Domingos Martins de Souza era casado com Maria Valéria de Jesus. Não sabemos quantos eram os seus filhos, mas podemos mencionar alguns de quem ouvimos fartamente falar: Manuel Joaquim de Souza, Balbina Maria de Jesus, Maria Rosalina dos Santos (Santa) e Maria Vitória.

- Manuel Joaquim de Souza era casado em primeiras núpcias com Maria do Rosário. Os filhos dessa união foram Isabel Maria de Souza (Zabilinha), minha avó paterna; José Joaquim de Souza; e Ana. Em segundas núpcias, Manuel uniu-se a Maria Francisca de Jesus (Chiquinha), com quem teve muitos filhos, a exemplo de Santinho Joaquim de Souza, Altino Joaquim de Souza, Maria Francisca de Jesus Filha (Maria do Céu) e Firmino.

- Balbina Maria de Jesus era esposa de Antônio Nunes do Nascimento. Tornou-se viúva com a família ainda muito nova. Martinho Nunes de Souza, Maria Balbina de Jesus, Juvêncio e Jovina Maria de Jesus eram alguns de seus filhos.
Martinho Nunes de Souza era proprietário de terras no atual município de Pedro Alexandre. Sua mulher era Maria Alves de Souza, filha de João Inácio de Souza e Inês Maria de Jesus. Em meados da década de 1940, mudaram-se para o atual município de Carira, onde se estabeleceram em propriedade denominada Tanquinhos. O casal teve os seguintes filhos: José Martinho Nunes (Zezé), Fausto Martins de Souza, Manuel Martins Nunes, Vicencia Maria de Souza (minha mãe), Sabino Martins Nunes, Elesbão Martins Nunes, Firmina Maria dos Santos, Cesária Maria dos Santos e Gregório Martins Nunes. Ainda estão vivos os três últimos.
Vicencia Maria de Souza nasceu em 22 de janeiro de 1927; casou-se na década de 1940, com Teodoro José de Souza, de quem já falamos. 

Com o passar do tempo, é natural que se desfaça a noção de parentesco entre as famílias. Registramos portanto esta homenagem a nossos antepassados, especialmente aos irmãos patriarcas Inácio Martins de Souza e Domingos Martins de Souza.


Marcos de Souza


  • Cemitério de Nossa Senhora da Guia, obra fundada por Inácio Martins de Souza, no Deserto, Pedro Alexandre, Bahia.
  • Foto: Marcos de Souza (2010).

sexta-feira, 3 de julho de 2020

O vaqueiro João Martins e as origens de Carira (Descendência parcial do fundador de Carira). Autor: Marcos de Souza

A partir da esquerda, Domingos Martins de Souza (Dominguinho Martins), neto do vaqueiro João Martins, e seu filho José Domingos de Souza.
Consta de algumas fontes que a atual cidade sergipana de Carira se iniciou com a construção da casa do vaqueiro João Martins, em 1865, mesmo ano em que se deu a dolorosa morte da índia Mãe Carira. Leiamos este trecho da página 20 da obra "Carira" (1999), de João Hélio de Almeida:
"Partindo da aldeia de Mãe Carira e puxando dois quilômetros para as bandas do nascente, na sesmaria de Varjada (na bacia dos rios Vaza barris e Sergipe), João Martins edificou a primeira casa, em 1865 (conforme arquivo da Prefeitura local). Em seguida, foram construídas as de seus filhos, Joaquim e Gonçalo".
Segundo o IBGE e a "Enciclopédia dos Municípios Brasileiros", que se serviram de informações da prefeitura, ele chamava-se João Martins de Souza.
Rezam os dados históricos que em 1870 João Martins e família davam modestamente os primeiros passos para a realização semanal da nossa feira. Construiram em seguida uma casa de orações com cemitério ao lado.
Isso é praticamente tudo que se sabe do Carira do século XIX. Não há muito para acrescentar. Os anos seguintes desse século são muito obscuros. Só a partir do início do século XX é que há uma maior sequência de registros de fatos de nossa terra.

Chamou muito nossa atenção a falta de descendentes declarados desses precursores. Pudemos verificar que não havia praticamente ninguém que conhecesse a descendência deles, como se tivesse sido posto um ponto final na história dessa família ou como se ela tivesse se retirado de Carira. Ao tentarmos lançar mão dum trabalho genealógico, éramos postos de mãos atadas pela falta dum ponto de partida. Quando já nos dávamos por vencidos, surgiu uma pista, conforme veremos abaixo:
A obra "Retalhos de História - Através de um Centenário Desconhecido" (1966), de Olímpio Rabelo de Morais, trata de um senhor Jovino Martins, que, segundo o autor, era neto do vaqueiro pioneiro. Vejamos o próprio texto:
"No último domingo de novembro de 1929 desmontava, às cinco horas da manhã, na bodega de seu ZÉ MARTINS, LAMPIÃO com seus nove cabras, de passagem para Capela.
Dela [a bodega] recolhi ainda pelas narrativas sempre agradáveis do velho JOVINO MARTINS, os fatos mais importantes na formação da vida local.
Tem esta casa, pois, a sua história dentro da História, a viver hoje na decadência do passado, condição natural do Progresso.
Neto do velho JOÃO MARTINS, fundador de MÃE CARIRA, como ninguém, conhecia ele, o velho JOVINO, os acontecimentos mais importantes aqui ocorridos em épocas remotas. Ouvi-lo era para mim um prazer. Velhinho baixo, alvo, comunicativo na prosa, apenas alfabetizado, bigode aparado, clássica bengala à mão, passo miúdo - assim conheci seu JOVINO, já maduro, de cuja memória quero me valer hoje na revivescência da nossa formação histórica. Faleceu ele há pouco tempo, em São Paulo, com mais de 90 anos."

Se a pessoa em questão morreu em São Paulo, na década de 1960, logo percebemos que a pista não era das melhores. Isso porém não nos impediu de descobrir que se tratava de Jovino Martins de Souza. Segundo sua sobrinha Anita Souza de Oliveira, ele era filho de Joaquim Aprígio Bispo (Joaquim Martins), nome do qual duvidamos, até termos acesso a fartas provas documentais. Acrescentou dona Anita que a mulher de Jovino se chamava Soledade, e citou ainda os filhos Antonino, José (Deda) e Celina, que se ausentaram de Carira.
Moravam também no Carira alguns irmãos dele, dentre os quais citaremos:

- José Martins de Souza (Zezé Martins) foi, com sua bodega, um dos mais importantes comerciantes de seu tempo. É o mesmo Zé Martins que Olímpio Rabelo cita no texto a que recorremos. Sua mulher chamava-se Teodora e era apelidada de Dó. Chegou a ter uma segunda mulher, chamada Durvalina. Não sabemos o paradeiro de seus descendentes. Tão somente ouvimos falar de um filho chamado João e uma filha chamada Maria.
- Domingos Martins de Souza, comumente conhecido como Dominguinho Martins, tinha propriedade nas imediações da Lagoa Verde; faleceu em 1963, com mais de 85 anos de idade. De sua mulher só sabemos que se chamava Angélica Maria de Souza. Teve muitos filhos, entre os quais Jovino Domingos de Souza e Andrelino Domingos de Souza, únicos a permanecer em Carira. Jovino era comerciante, casado com dona Cecília Almeida Souza (Cecília de Coleto); entre seus filhos contamos Enoque de Almeida Souza, conhecido professor e diretor escolar aposentado de Carira, e Maria Madalena de Souza, apelidada de Deninha. Andrelino era fiscal; Seu filho Getúlio Andrelino de Souza ou Galego de Andrelino, como é apelidado, é pequeno pecuarista e ainda hoje mora em nossa terra.
- Manuel Martins de Souza, apelidado de Manezinho de Santa, morou no Carira e no povoado Descoberto. Ainda mora, nesse mesmo povoado, sua filha Anita Souza de Oliveira, conhecida como Nita de Sinhô, senhora idosa mas com muita lucidez; Lá também residem netos e outros descendentes de Manezinho. Devemos acrescentar que dona Anita é a única pessoa a se declarar descendente do vaqueiro João Martins. Ela manifesta plena consciência de ter sido Carira fundada por seus bisavós.
- Joana Maria de Jesus, por todos apelidada de Dunguinha, morava no Carira. É de nosso conhecimento que era casada com o ferreiro Manuel Ferreira do Nascimento. Sabemos que teve vida longa. Entre seus filhos havia o agente fazendário Otoniel Ferreira do Nascimento, apelidado de Nié ou Padinho; Floripes Ferreira Barreto, mãe do conhecidíssimo José Barreto Filho (Zé Barreto), que por muitos anos administrou o serviço de alto-falante São José, na praça Tobias Barreto, além de ter sido vereador; Albertina Ferreira dos Santos (Bertina de Zé Reis), ainda viva, mãe de dona Inês Bastos.

Em resumo, Jovino Martins, Zezé Martins, Dominguinho Martins, Manezinho de Santa e Dunguinha eram filhos de Joaquim Aprígio Bispo (Joaquim Martins) e netos do vaqueiro João Martins, fundador de nossa Carira.
Apesar da extensão deste texto, sabemos que este trabalho é muito parcial e que muita coisa poderia ser acrescentada. Olímpio Rabelo, por exemplo, afirma em sua obra já citada que há descendentes do vaqueiro João Martins na região do rio do Peixe, situada em Pedro Alexandre e Coronel João Sá, na Bahia, ao passo que dona Anita Souza de Oliveira cita os já falecidos José Antônio dos Santos (Santo Inácio), José Pedro Martins (Zé Gonçalo), João Luís Fontes (Joãozinho Bento) e Martinho Nunes de Souza (Martinzinho) como parentes de seu pai. Não seria tarefa fácil aprofundar pesquisas a respeito dessa família, embora seja assunto que nos fascina. Sempre que surgirem informações relevantes a esse propósito, serão feitas reedições.
Para a realização deste modesto trabalho contamos com a preciosa colaboração de Enoque de Almeida Souza, Manuel Eduardo dos Santos (Manezinho de Duardo), Aduilson Simões de Almeida (in memoriam), Anita Souza de Oliveira (Nita de Sinhô), Getúlio Andrelino de Souza (Galego de Andrelino), Albertina Ferreira dos Santos (Bertina de Zé Reis), Vicencia Maria de Souza e João Hélio de Almeida.
Consultamos as obras CARIRA (1999), de João Hélio de Almeida; RETALHOS DE HISTÓRIA - ATRAVÉS DE UM CENTENÁRIO DESCONHECIDO (1966), de Olímpio Rabelo de Morais; e ENCICLOPÉDIA DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS, VOLUME XIX - ALAGOAS E SERGIPE (1959), de Jurandyr Pires Ferreira.
POSTADO INICIALMENTE EM OUTUBRO DE 2009.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

João Martins (Texto extraído da obra Retalhos de História, de Olímpio Rabelo)

No primeiro quartel do século XIX, como bem se observa no mapa do Exército anexo à monumental obra de IVO DO PRADO -CAPITANIA DE SERGIPE E SUAS OUVIDORIAS- era totalmente deserto, nas suas sesmarias do RIO DO PEIXE e CANSANÇÃO, o território compreendido hoje pelos municípios de CARIRA, JOÃO SÁ (Bebedouro) e PEDRO ALEXANDRE (Serra Negra). É bem de ver que as terras destes dois últimos municípios baianos pertenciam, até pouco tempo, a Jeremoabo.
Lagarto, por sua posição jurisdicional sobre Jeremoabo, exercia, através de suas principais famílias, preponderante influência econômica naquelas sesmarias, cujos proprietários nos deixaram, como tradição, à família da terra (Souza Freire) a vinculação de seu nome.
Só em 1831, depois de longos anos de freguesia, é que veio Jeremoabo a adquirir a sua emancipação política, à frente de cujo movimento tivemos o nosso parente JOSÉ RABELO DE MORAIS, ascendência do "Cel. Chico Rabelo", prestigioso chefe político largamente conhecido em toda aquela região sertaneja, no último quartel do século passado.
Adensava-se, depois do meado do século, a população naquela região do Vaza-Barris, ao longo do RIO DO PEIXE. A princípio, foram proprietários lagartenses, agora sob influência do CARITÁ (João Dantas dos Reis). Daí trazerem os DANTAS, de BOM CONSELHO, para vaqueiro da GUIA, JOÃO MARTINS e com ele os primeiros povoadores de MÃE CARIRA, partindo do RIO DO PEIXE. Ainda hoje se verificam nos traços de seus descendentes, espalhados em grande maioria, não somente pelo CARIRA, como naquela região mesma do RIO DO PEIXE, características étnicas da raça.
Dois quilômetros a leste da taba de MÃE CARIRA, nascente do rio ANINGAS, sesmaria de VARJADA, no divisor de águas VAZA-BARRIS-SERGIPE, aqui edificou JOÃO MARTINS, em 1865, a primeira casa, seguida depois das de seus filhos JOAQUIM e GONÇALO. Eu as alcancei na rusticidade de sua origem, à praça Martinho de Souza. Como que sentinela avançada à entrada do Sertão estava a primitiva, em frente ao cruzeiro desaparecido, enquanto as outras ficavam no alinhamento frente-sul daquela praça, Há quarenta anos não se via mais, naquela, a pedra fundamental da terra, monumento histórico desaparecido na voragem destruidora do Progresso.
Conta-se, por tradição, na verossimilhança de sua lenda, fôra MÃE CARIRA indígena remanescente a ser encontrada pelos primeiros povoadores, em sua taba nas imediações do TANQUE DO CARIRA a SACO TORTO. O fato é que até hoje, embora simplificado no princípio do século para CARIRA, lhe permanece o topônimo na vida secular da Cidade.
Finda a GUERRA DO PARAGUAI, -um dos fatores a influir, nesses cinco anos de guerra, no povoamento de MÃE CARIRA, como esconderijo, em suas matas desabitadas, ao recrutamento de varões, numerosos os de seu proprietário,- finda a GUERRA, já em 1870, debaixo de um jequiri ao lado de sua casa, começa JOÃO MARTINS um "ajuntamento" aos domingos.
Apesar de seu habitat rústico do sertão, mas em contato com civilizados, sua índole pacífica e de formação cristã o levou a construir, cinco anos depois, uma casinha de oração com cemitério de lado. Daqui em diante, com a morte do velho PATRIARCA nos foi entregue o destino da nascente povoação, sem nenhum fato ou acontecimento de vulto a assinalar, até o fim do século, progresso de vida social. O QUADRO COROGRÁFICO DE SERGIPE, escrito em 1896 por Laudelino Freire, nos dá testemunho disso, quando cita Mocambo e Alagadiço como povoados mais importantes do então município de São Paulo, sem se referir, de modo algum, à MÃE CARIRA.
Neste perpassar de século, duros foram os obstáculos, talvez mais de ordem étnica, na formação do meio. Mas nem por isso deixou o pioneirismo de JOÃO MARTINS, benfazejo em sua criação, -não obstante, acrescente-se ainda, o retardamento de progresso vindo até nós,- de ser exemplo edificante criador, em idênticas e gloriosas caminhadas emancipadoras, no acelerar o desenvolvimento dos nossos dias.
No centenário de sua obra imorredoura, aqui está, pois, o culto da minha homenagem à sua memória, fadada a desaparecer no esquecimento do passado, se não lhe resguardarmos lugar de honra na GALERIA dos nossos benfeitores.


Carira, 20-1-1965.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Santo Inácio (Carira em tempos de heroísmo)

De 1899 a 1911, a intendência da Vila de São Paulo (atual Frei Paulo) sofreu forte influência do alferes Manuel Hipólito Rabelo de Morais, que por aqui começou a se estabelecer em 1880, com a compra de terras, onde fundou o arraial do Gameleiro.
Por essa época, segundo a tradição oral, os habitantes do Carira sofriam intensa hostilidade da polícia, principalmente aos domingos, na feira: o desenvolvimento do Carira incomodava Manuel Hipólito, que não queria ver prejudicada a feira do Gameleiro. Assim começou o século XX em nossa terra.
A severidade com que o intendente tratava os carirenses causou enérgica reação. Notabilizou-se Martinho de Souza Freire pela coragem de enfrentar a gente do alferes e defender o pequenino Carira.
Outro morador com importante papel nesses confrontos foi o jovem José Antônio dos Santos, apelidado de Santo Inácio. Certa vez, farto das agressivas investidas da polícia, combinou com Manuel Amâncio e com outros amigos uma resposta à altura da arbitrariedade que sofriam. Armaram-se de cacetes e, com extremo ímpeto, expulsaram os soldados na próxima visita indesejada que estes fizeram à feira do Carira. Este episódio consta do folheto intitulado "História de Carira", de autoria de José Francisco dos Santos (Juca de Zé de Santo), neto de Santo Inácio.
Quanto à origem, ele era filho de Antônio Inácio de Souza, membro dos Inácios, família que participou do desbravamento de boa parte do atual município baiano de Pedro Alexandre, em localidades como Quati, Deserto, Tanque Novo, Lagoa das Pedras, Pindoba, Cipó de Leite e outras; e a maioria dos seus irmãos não morava no Carira: Geminiano Antônio de Souza mudou-se para o sul da Bahia, mas deixou filhos em nossa região; João, apelidado de João Grosso ou João das Abóboras, e Sancha moravam em Lagarto; e Rufina residia no Descoberto.
Em Pedro Alexandre, à época pertencente a Jeremoabo, Santo foi dono de duas propriedades: o Campo Formoso e as Abóboras. Esta última foi vendida a Napoleão Emídio da Costa, primeiro prefeito de Frei Paulo. Nos atuais limites entre Pedro Alexandre e Carira, pertenceu a ele a Lagoa da Jurema, próximo aos Perdidos e Divisa; e em Carira, terras no Descoberto, para onde se mudou.
No início deste texto nos limitamos a citar um único atrito entre moradores do Carira e a polícia. Bem sabemos que essa não foi a única demonstração da valentia e coragem de Santo Inácio. Mas a sua mais importante obra foi o cemitério do Descoberto, que perpetuou seu nome. Segundo o senhor Paulo Alves de Oliveira (Paulo dos Perdidos), a pretensão inicial era reservar uma pequena área de terra para o enterro de natimortos ou recém-nascidos que morressem pagãos. Mas pela abertura de algumas exceções, adultos também foram enterrados, e aquela modesta ideia acabou se tornando um cemitério comunitário - Cemitério de Santo Inácio, como ainda hoje o chamamos, não pela consagração ao santo, mas pelo apelido do fundador. Após a morte dele, aquele campo santo passou aos cuidados do seu genro Maximino Alves de Oliveira (Maximino dos Perdidos).
Já se perdeu de nossa memória a data do falecimento desse vulto carirense. José Alves dos Santos (Zequinha do Sorvete), também neto dele, afirma ter sido em 1961, portanto há mais de cinquenta anos. Também já morreram quase todos os seus filhos, bem conhecidos em Carira e região: Ananias José dos Santos (Zé de Santo), sogro do vereador José Francisco da Silva (Zé Guarda); Maria Madalena de Oliveira, mãe do senhor Paulo Alves de Oliveira (Paulo dos Perdidos); Olívia Maria de Jesus; Manuel Martins dos Santos (Manezinho de Santo); Josefa Maria de Jesus (Zefinha dos Olhos d'Água); Genário Antônio dos Santos, pai do comerciante José Alves dos Santos (Zequinha do Sorvete); Margarida Maria de Jesus, única remanescente, com mais de 95 anos de idade; e outros.
A conclusão deste texto não seria possível sem a gentil colaboração dos senhores Paulo Alves de Oliveira (Paulo dos Perdidos) e José Alves dos Santos (Zequinha do Sorvete), netos de Santo Inácio. Aqui expressamos nosso agradecimento a eles e a Gregório Martins Nunes, Cesária Maria dos Santos e Vicencia Maria de Souza, que também nos ajudaram. Pesquisamos as obras CARIRA, de João Hélio de Almeida, e HISTÓRIA DE CARIRA, folheto de literatura de cordel, de autoria de José Francisco dos Santos (Juca de Zé de Santo).
Cemitério de Santo Inácio, no Descoberto, Carira.