sexta-feira, 3 de julho de 2020

O vaqueiro João Martins e as origens de Carira (Descendência parcial do fundador de Carira). Autor: Marcos de Souza

A partir da esquerda, Domingos Martins de Souza (Dominguinho Martins), neto do vaqueiro João Martins, e seu filho José Domingos de Souza.
Consta de algumas fontes que a atual cidade sergipana de Carira se iniciou com a construção da casa do vaqueiro João Martins, em 1865, mesmo ano em que se deu a dolorosa morte da índia Mãe Carira. Leiamos este trecho da página 20 da obra "Carira" (1999), de João Hélio de Almeida:
"Partindo da aldeia de Mãe Carira e puxando dois quilômetros para as bandas do nascente, na sesmaria de Varjada (na bacia dos rios Vaza barris e Sergipe), João Martins edificou a primeira casa, em 1865 (conforme arquivo da Prefeitura local). Em seguida, foram construídas as de seus filhos, Joaquim e Gonçalo".
Segundo o IBGE e a "Enciclopédia dos Municípios Brasileiros", que se serviram de informações da prefeitura, ele chamava-se João Martins de Souza.
Rezam os dados históricos que em 1870 João Martins e família davam modestamente os primeiros passos para a realização semanal da nossa feira. Construiram em seguida uma casa de orações com cemitério ao lado.
Isso é praticamente tudo que se sabe do Carira do século XIX. Não há muito para acrescentar. Os anos seguintes desse século são muito obscuros. Só a partir do início do século XX é que há uma maior sequência de registros de fatos de nossa terra.

Chamou muito nossa atenção a falta de descendentes declarados desses precursores. Pudemos verificar que não havia praticamente ninguém que conhecesse a descendência deles, como se tivesse sido posto um ponto final na história dessa família ou como se ela tivesse se retirado de Carira. Ao tentarmos lançar mão dum trabalho genealógico, éramos postos de mãos atadas pela falta dum ponto de partida. Quando já nos dávamos por vencidos, surgiu uma pista, conforme veremos abaixo:
A obra "Retalhos de História - Através de um Centenário Desconhecido" (1966), de Olímpio Rabelo de Morais, trata de um senhor Jovino Martins, que, segundo o autor, era neto do vaqueiro pioneiro. Vejamos o próprio texto:
"No último domingo de novembro de 1929 desmontava, às cinco horas da manhã, na bodega de seu ZÉ MARTINS, LAMPIÃO com seus nove cabras, de passagem para Capela.
Dela [a bodega] recolhi ainda pelas narrativas sempre agradáveis do velho JOVINO MARTINS, os fatos mais importantes na formação da vida local.
Tem esta casa, pois, a sua história dentro da História, a viver hoje na decadência do passado, condição natural do Progresso.
Neto do velho JOÃO MARTINS, fundador de MÃE CARIRA, como ninguém, conhecia ele, o velho JOVINO, os acontecimentos mais importantes aqui ocorridos em épocas remotas. Ouvi-lo era para mim um prazer. Velhinho baixo, alvo, comunicativo na prosa, apenas alfabetizado, bigode aparado, clássica bengala à mão, passo miúdo - assim conheci seu JOVINO, já maduro, de cuja memória quero me valer hoje na revivescência da nossa formação histórica. Faleceu ele há pouco tempo, em São Paulo, com mais de 90 anos."

Se a pessoa em questão morreu em São Paulo, na década de 1960, logo percebemos que a pista não era das melhores. Isso porém não nos impediu de descobrir que se tratava de Jovino Martins de Souza. Segundo sua sobrinha Anita Souza de Oliveira, ele era filho de Joaquim Aprígio Bispo (Joaquim Martins), nome do qual duvidamos, até termos acesso a fartas provas documentais. Acrescentou dona Anita que a mulher de Jovino se chamava Soledade, e citou ainda os filhos Antonino, José (Deda) e Celina, que se ausentaram de Carira.
Moravam também no Carira alguns irmãos dele, dentre os quais citaremos:

- José Martins de Souza (Zezé Martins) foi, com sua bodega, um dos mais importantes comerciantes de seu tempo. É o mesmo Zé Martins que Olímpio Rabelo cita no texto a que recorremos. Sua mulher chamava-se Teodora e era apelidada de Dó. Chegou a ter uma segunda mulher, chamada Durvalina. Não sabemos o paradeiro de seus descendentes. Tão somente ouvimos falar de um filho chamado João e uma filha chamada Maria.
- Domingos Martins de Souza, comumente conhecido como Dominguinho Martins, tinha propriedade nas imediações da Lagoa Verde; faleceu em 1963, com mais de 85 anos de idade. De sua mulher só sabemos que se chamava Angélica Maria de Souza. Teve muitos filhos, entre os quais Jovino Domingos de Souza e Andrelino Domingos de Souza, únicos a permanecer em Carira. Jovino era comerciante, casado com dona Cecília Almeida Souza (Cecília de Coleto); entre seus filhos contamos Enoque de Almeida Souza, conhecido professor e diretor escolar aposentado de Carira, e Maria Madalena de Souza, apelidada de Deninha. Andrelino era fiscal; Seu filho Getúlio Andrelino de Souza ou Galego de Andrelino, como é apelidado, é pequeno pecuarista e ainda hoje mora em nossa terra.
- Manuel Martins de Souza, apelidado de Manezinho de Santa, morou no Carira e no povoado Descoberto. Ainda mora, nesse mesmo povoado, sua filha Anita Souza de Oliveira, conhecida como Nita de Sinhô, senhora idosa mas com muita lucidez; Lá também residem netos e outros descendentes de Manezinho. Devemos acrescentar que dona Anita é a única pessoa a se declarar descendente do vaqueiro João Martins. Ela manifesta plena consciência de ter sido Carira fundada por seus bisavós.
- Joana Maria de Jesus, por todos apelidada de Dunguinha, morava no Carira. É de nosso conhecimento que era casada com o ferreiro Manuel Ferreira do Nascimento. Sabemos que teve vida longa. Entre seus filhos havia o agente fazendário Otoniel Ferreira do Nascimento, apelidado de Nié ou Padinho; Floripes Ferreira Barreto, mãe do conhecidíssimo José Barreto Filho (Zé Barreto), que por muitos anos administrou o serviço de alto-falante São José, na praça Tobias Barreto, além de ter sido vereador; Albertina Ferreira dos Santos (Bertina de Zé Reis), ainda viva, mãe de dona Inês Bastos.

Em resumo, Jovino Martins, Zezé Martins, Dominguinho Martins, Manezinho de Santa e Dunguinha eram filhos de Joaquim Aprígio Bispo (Joaquim Martins) e netos do vaqueiro João Martins, fundador de nossa Carira.
Apesar da extensão deste texto, sabemos que este trabalho é muito parcial e que muita coisa poderia ser acrescentada. Olímpio Rabelo, por exemplo, afirma em sua obra já citada que há descendentes do vaqueiro João Martins na região do rio do Peixe, situada em Pedro Alexandre e Coronel João Sá, na Bahia, ao passo que dona Anita Souza de Oliveira cita os já falecidos José Antônio dos Santos (Santo Inácio), José Pedro Martins (Zé Gonçalo), João Luís Fontes (Joãozinho Bento) e Martinho Nunes de Souza (Martinzinho) como parentes de seu pai. Não seria tarefa fácil aprofundar pesquisas a respeito dessa família, embora seja assunto que nos fascina. Sempre que surgirem informações relevantes a esse propósito, serão feitas reedições.
Para a realização deste modesto trabalho contamos com a preciosa colaboração de Enoque de Almeida Souza, Manuel Eduardo dos Santos (Manezinho de Duardo), Aduilson Simões de Almeida (in memoriam), Anita Souza de Oliveira (Nita de Sinhô), Getúlio Andrelino de Souza (Galego de Andrelino), Albertina Ferreira dos Santos (Bertina de Zé Reis), Vicencia Maria de Souza e João Hélio de Almeida.
Consultamos as obras CARIRA (1999), de João Hélio de Almeida; RETALHOS DE HISTÓRIA - ATRAVÉS DE UM CENTENÁRIO DESCONHECIDO (1966), de Olímpio Rabelo de Morais; e ENCICLOPÉDIA DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS, VOLUME XIX - ALAGOAS E SERGIPE (1959), de Jurandyr Pires Ferreira.
POSTADO INICIALMENTE EM OUTUBRO DE 2009.

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